Quando o teatro combateu a escravidão

Quando o teatro combateu a escravidão

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Conforme indica o professor, além da denúncia da voracidade sexual dos proprietários de escravos, os dramaturgos buscaram também levar aos palcos as consequências terríveis dessa prática. A mais explorada pelos autores foi o preconceito social que atingia escravos e libertos, fossem eles brancos ou de pele mais escura. Contudo, Faria salienta que há um aspecto incômodo nesse repertório dramático.

“As escravas ou libertas postas em cena para sensibilizar o espectador com sua triste situação são sempre brancas, com raríssimas exceções. Quando se trata de mostrar o sofrimento de uma menina ou de uma mocinha, o protagonismo é preferencialmente dado a uma filha do senhor branco com uma escrava de pele clara, nunca a uma escrava negra. Em peças escritas para criticar o preconceito, essa recorrência é, no mínimo, contraditória”.

Outras estratégias utilizadas pelos dramaturgos para condenar a escravidão incluíram a sátira dos senhores escravocratas, para divertir os espectadores. No sentido oposto, os autores abusaram também, na tentativa de comover o público, da presença do “escravo fiel”. Um personagem bondoso, resignado, com fortes valores cristãos, leal ao senhor e que servia para mostrar à plateia as virtudes do escravizado, justificadoras de sua libertação. Além destes temas, a venda em separado de pais e filhos ou marido e esposa foi outra fonte de sofrimento para os escravos que mereceu destaque nos palcos.

“Acredito que a contribuição da dramaturgia brasileira para a crítica da escravidão e a defesa da abolição não foi pequena. A maior parte dessas mais de cem peças, representadas ou apenas publicadas, atingiu um público enorme, que riu ou se emocionou com elas, que refletiu acerca dos problemas que apresentaram a respeito da escravidão em nosso país”, analisa Faria. “Embora seja impossível medir o real alcance que tiveram junto a espectadores e leitores, é de se crer que não tenha sido desprezível, se levarmos em conta que chegaram a centenas de milhares de espectadores, como se depreende da leitura dos jornais da época. Alguma parcela da consciência antiescravista e abolicionista que tomou conta da população brasileira deve ser creditada ao teatro e à sua grande capacidade de conquistar corações e mentes”.

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