Letícia teve acesso a diferentes relatos que demostravam um cotidiano carregado de violências, naturalizadas ou não. “Uma das falas marcantes que expressa isso para mim foi da Márcia Mafra, quando está narrando a vida na prisão: ‘Cometemos um erro crasso, Janaína. Achávamos que éramos iguais a eles, nunca fomos!’”, disse a historiadora em relato. Outros depoimentos analisados pela pesquisa constatam que até mesmo a esquerda política, objeto de estudo da dissertação, omitia os debates sobre as pautas de gênero.
“A opressão acontece pelo lugar social, então mesmo mulheres que não se identificam como feministas vão sofrer as opressões do patriarcado, vão ter os atributos femininos tidos como fragilidade – como sensibilidade, amorosidade, emotividade –, vão ser condenadas a criarem filhos sozinhas etc.”, conclui a pesquisadora.
O estudo também constatou as consequências do padrão comportamental que as instituições familiares e religiosas desempenharam dentro do presídio. O exercício de sobrevivência em um contexto traumático era sustentado com as atividades que desenvolviam: na preparação dos alimentos, na limpeza das celas e nos trabalhos manuais com tricô e crochê. “Mesmo com o sadismo presente nas torturas, havia um espírito coletivo nos corredores do presídio, evidenciado nas redes de solidariedade construídas entre as presas”, destaca a pesquisadora sobre o cotidiano carcerário, que também se tornou um espaço de reencontro entre militantes.
Pretendendo seguir com a pesquisa no doutorado, Letícia também pontua a atuação das militantes presas no desenvolvimento do feminismo no Brasil. “Existe um feminismo brasileiro? Talvez possa existir quando a gente reconhecer a diversidade de corpos femininos que há em nosso País. Mulheres como sujeito universal padronizado, não, isso não existe!”.
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